sexta-feira, junho 03, 2005

"Governo brasileiro aprova negociações para entrada da TAP na Varig"

"Depois de quatro horas de conversações, ontem à tarde, em Brasília, o Governo brasileiro deu sinal verde às negociações entre TAP e Varig para a uma proposta de reestruturação financeira da empresa brasileira de aviação mediante a participação accionista da companhia aérea portuguesa.
O encontro entre o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, com o administrador-delegado da TAP, Fernando Pinto, e o presidente do Conselho de Administração da Varig, David Zylbersztajn, foi considerado um avanço pelos dois executivos.
'A reacção do Governo superou as expectativas e o projecto de reestruturação, que deve levar de quatro a seis meses, recebeu inclusive elogios dos ministros Palocci e José Dirceu', disse David Zylbersztajn. 'O Governo aprovou a proposta no seu conteúdo e na capacidade de execução.'
Nenhum dos dois executivos quis detalhar a proposta apresentada ao Governo. Nem sobre as acções de curto prazo da proposta, que começariam a ser executadas já na próxima semana. Os dois confirmaram, no entanto, que a TAP deverá realizar uma injecção de capital na Varig. Em troca, a empresa portuguesa deve ficar com 20 por cento das acções da companhia aérea brasileira - máximo permitido pela legislação do país para este tipo de operações.
'A injecção de capital que a TAP fará na Varig não vai comprometer o défice orçamental do Estado português', disse Fernando Pinto. 'As duas companhias vão crescer nos próximos meses com a sinergia operacional que será implementada durante o processo de reestruturação', acrescentou o responsável da companhia aérea portuguesa.
As conversas com os credores externos, segundo o executivo da TAP, já tinham sido positivas, mas faltava um sinal verde do Governo brasileiro. Justifica-se: o Governo é o maior credor da dívida de 6,5 mil milhões de reais - mais de dois mil milhões de euros.
A Varig tem dívidas, ainda, à Previdência Social, à Empresa de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), que administra os aeroportos brasileiros, e à BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás, que fornece combustível à companhia.
'O Governo brasileiro não se comprometeu a nada, por enquanto, mas isso é normal. As acções efectivas levam tempo para acontecer', afirmou Fernando Pinto. 'O sinal do Governo brasileiro de que está empenhado em resolver o problema da Varig é muito importante nas negociações da companhia com os demais credores', acrescentou David Zylbersztajn.
Fernando Pinto disse que a vantagem da associação da TAP com a Varig é que a iniciativa acrescenta valor à companhia aérea portuguesa. Zylbersztajn repetiu quase a mesma coisa, mas no tom de quem é responsável por uma empresa afogada em dívidas. 'Há muito dinheiro envolvido na negociação, sem dúvida alguma', afirmou, sem informar os valores da operação. (Paulo de Vasconcellos, Rio de Janeiro - Público, 3 de Junho de 2005).